Figura 03. Preparando o jumento para trabalho, Natal, RN.
Nobre (1993) cita ser inacreditável que um animal de tão alto significado para o povo nordestino, tenha estado e, de certo modo, ainda esteja ameaçado de extinção, em virtude do abate indiscriminado para fins industriais. Os animais eram comprados por preços irrisórios e, não raras vezes, roubados, acintosamente, pelos intermediários dos abatedouros, instalados em diversos Estados, ocorrendo o extermínio de muitos milhares de animais em plena capacidade de trabalho e reprodução. De todos os animais domésticos explorados na Região Nordeste, certamente é o asinino o que maiores serviços tem prestado à Região, ao longo de mais de quatro séculos (Figura 34).
Figura 02. Serviço de coleta de material para reciclagem, Natal, RN.
 
O jumento Nordestino durante várias décadas transportou em seu dorso, a água, a lenha e o carvão para o abastecimento das residências ou das locomotivas das ferrovias nordestinas e ainda continuam carregando lenha e água para as famílias nos sertões brasileiros (Figuras 27 e 28).
 
Foi o meio de transporte mais comum, no interior da Região Nordeste, antes das máquinas motorizadas. Ainda hoje, mesmo com a presença marcante do automóvel e máquinas agrícolas, continua sendo valioso instrumento de interligação do meio rural, com as vilas e cidades.
 
Até mesmo nas grandes cidades da Região Nordeste e em comunidades carentes é constante a presença do jumento, na carga e na tração de carroças, como importante meio de trabalho e de sustento de famílias de baixa renda.
Figura 01. Jumento Nordestino, na periferia da cidade de Natal, RN.
Origem do jumento Nordestino
 
O jumento Nordestino, também conhecido por jegue e jerico, é um dos animais domésticos que, certamente ao longo dos séculos vem prestando relevantes serviços ao povo nordestino, porque não dizer ao povo brasileiro. A origem do jumento nordestino é fundamentada em hipótese, sendo a mais provável que seja descendente dos jumentos norte-africanos, e que tenham vivido nas ilhas portuguesas, antes de chegarem ao Brasil. Não há relato da presença de jumentos antes do descobrimento do Brasil. Admite-se que Martim Afonso de Souza, em 1534, os tenha trazido da Ilha da Madeira e das Ilhas Canárias para São Vicente. Depois, Thomé de Souza os trouxe para a Bahia, em 1549, jumentos de Cabo Verde (Torres & Jardim, 1992).
 
O jumento Nordestino sempre esteve presente em todas as atividades de natureza econômica, social e cultural do nordeste brasileiro, desde os primórdios da colonização. Participou, duramente, do desbravamento e da ocupação da terra e da instalação das propriedades do litoral nordestino. Da mesma forma, ajudou a construir estradas, redes telegráficas, ferrovias, açudes e grande parte das habitações do meio rural e das cidades na Região Nordeste.
 
O jegue é para o nordestino o mesmo que o camelo é para o árabe ou o beduíno do deserto. Os jegues seriam realmente os camelos do Nordeste, em resistência, em longevidade, em disposição, utilidade, se lhes fossem assegurados os cuidados dispensados a outros animais de menor valia econômica (Vieira, 1992). 
Andrade (1999) cita que o jumento Nordestino é, indiscutivelmente, um patrimônio nacional, um “herói do sertão”. Sobrevive sob as mais rudes condições de clima e de alimentação, e é o responsável direto pela sobrevivência de milhares de famílias pobres na região do Nordeste, sendo ainda hoje o principal meio de transporte e de serviço, e de também, rusticidade e resistência incomparável.
 
É o equídeo que mais presta serviços nas propriedades rurais de diferentes tamanhos, fazendo diariamente trabalhos mais árduos, a troco de uma alimentação, na maioria das vezes, pobre e escassa.
 
De modo geral, a eles são reservadas as piores pastagens, onde não recebem alimentação suplementar e são submetidos a serviços pesados, com jornadas de trabalhos muito longas. Entretanto, por trás de sua cara comprida, está escondido um animal extremamente social, dócil, inteligente, garboso e resistente.
 
Após séculos de serviços prestados, o animal símbolo do Nordeste está sendo trocado por tratores, jipes e motocicletas. São abandonados pelos donos nas rodovias municipais e estaduais perto das cidades, onde não encontram alimentação adequada, ficam vagando pelas ruas comendo alguma forrageira ou o lixo depositado nos terrenos baldios das pequenas e grandes cidades do Nordeste (Figura 26). Algumas prefeituras proíbem a entrada dos animais na cidade, ou então os levam outros municípios (Nobre 1993).
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