Reprodução
Os muares são produtos do acasalamento do jumento ou jumenta (Equus asinus, 2n = 62 cromossomos) com a égua ou cavalo (Equus caballus, 2n = 64 cromossomos).
Os burros, as mulas e os bardotos têm 2n = 63 cromossomos, porque são resultantes da união de espermatozoides, com n = 31 cromossomos, e óvulo com n = 32 cromossomos.
Os cromossomos são de duas espécies diferentes e, portanto, não ocorre pareamento dos chamados cromossomos homólogos no aparelho reprodutor da mula ou bardota, impossibilitando assim, a meiose e a gametogênese. Considerando-se então os eventos da meiose I para a produção de gametas, os muares são animais estéreis.
Segundo Hermsdorff (1933), o bardoto assemelha-se, pela sua morfologia, mais ao cavalo que ao jumento, pelo menor tamanho das orelhas, maior abundância de crinas e conformação do posterior, guardando, no entanto, as mesmas qualidades morais da mula. O bardoto teria, portanto, uma fisionomia mais parecida com a do cavalo e um esqueleto mais semelhante ao do jumento, acontecendo, assim, o inverso do que se observa com relação ao burro.
Andrade (l999 b) cita a existência de jumentos que somente acasalam com jumentas, denotando comportamento sexual frio e indiferente na presença de éguas. Em alguns casos, a presença de uma jumenta como manequim estimula a ereção. O ideal é que o jumento aprenda a acasalar com éguas desde jovem, no início de seu desenvolvimento sexual. Uma prática corriqueira, adotada com o intuito de ensinar um jumento a cobrir éguas, é soltá-lo a partir de 1,5 anos de idade com uma potra da mesma faixa etária. Assim, com a maturidade sexual, o jumento começa a acasalar a potra, e posteriormente, também poderá cobrir jumentas. Os jumentos destinados ao acasalamento das éguas são comumente chamados de muladeiros.
A fisiologia da reprodução da espécie asinina não tem recebido atenção dos pesquisadores da mesma forma que os equinos. A literatura especializada é escassa e o número de animais envolvidos em pesquisas é limitado. Da mesma forma que os equinos, os asininos também são influenciados pelo fotoperíodo. Assim, a época do ano mais apropriada para a implantação da estação de monta, ocorre nos meses de maior luminosidade (Silva Filho, 1984).
Henry (1981) relata que as jumentas apresentam uma atividade poliestral sazonal, e que o período de cios ovulatórios férteis corresponde ao período de maior luminosidade e abundância nutricional na primavera e verão. O ciclo estral da jumenta é ligeiramente mais longo que o da égua, e as anormalidades de comportamento e de atividade ovariana podem ocorrer tanto na fase anovulatória como na ovulatória. Relata ainda, que a duração do cio de oito dias dificulta a previsão do dia mais indicado para a cobrição, e que a maior incidência de ovulações ocorre perto do final do cio.
Henry observou também que alguns jumentos demoram demasiadamente para cobrir as fêmeas em cio, em sistema extensivo ou monta controlada, chegando certos animais a não cobrir ocasionalmente, o que vem de encontro com as queixas de alguns criadores.
Nas conclusões de seu trabalho de pesquisa, relata alguns aspectos importantes sobre o comportamento sexual dos jumentos, tanto em regime de campo, quanto em regime controlado, que criadores e técnicos devem levar em consideração, para um melhor desempenho reprodutivo dos asininos, tais como: as interações sexuais acontecem com maior frequência nos dias procedentes próximos ao dia da ocorrência da ovulação; montas sem ereção e masturbações, frequentemente reprimidas pelo homem, são comportamentos normais, ocorrem natural e espontaneamente, e não prejudicam o desempenho reprodutivo dos animais.
Verificou, também, que o cortejo sexual em asininos é prolongado e dividido em períodos de isolamentos espontâneo e períodos de estimulação sexual mútuo. Em regime de monta controlada, mantida a condição de liberdade de movimentos, os machos tendem a preservar o comportamento que apresentam quando em regime de monta a campo. O potencial reprodutivo de jumentos em monta a campo é grande, sugerindo ser, ligado ao tipo de manejo imposto pelo homem, a origem dos problemas com a monta controlada.
Portanto, o criador antes de tirar conclusões apressadas sobre a libido dos jumentos, deve ficar atento às observações realizadas pelo Professor Henry durante sua pesquisa na reprodução dos asininos, bem como ao manejo alimentar e sanitário dos animais, antes de substituir o reprodutor do criatório.
A jumenta atinge a maturidade sexual aproximadamente aos 5 anos de idade, sendo que aos 18 meses já apresenta cios férteis. A idade recomendada para a primeira cobrição é em torno dos 36 meses de idade, quando já está com seu desenvolvimento corpóreo completo. A gestação da jumenta é de 12 meses, quando acasalada com jumento e quando o cruzamento for realizado por um garanhão, a gestação dura 11,5 meses. Na Tabela 2 têm-se um resumo do quadro reprodutivo dos equídeos