Figura 31. Mula Pampa receptora de embrião de equino da raça Paint Horse, antes e pós-parto. Foto cedida por: Fábio Gasparetto.
Ao longo dos anos, ouvimos comentários de várias pessoas perguntando se é verdade que a mula, toda vez que encontra éguas ou jumentas com crias, mata os filhotes. Conversas com vaqueiros relatam a seguinte história, que logicamente, necessita de uma pesquisa de cunho científico para comprovar sua veracidade.
 
A mula não se reproduz por ser um animal estéril, mas apresenta o instinto materno muito desenvolvido, ou seja, gosta e quer muito ter uma cria para cuidar. Quando encontra éguas ou jumentas com cria, instintivamente quer tomar seu potrinho e adotá-lo. Desta maneira, inicia-se uma briga ferrenha entre a égua ou jumenta com a mula para proteger e afastar a mesma de sua cria. A mula, por sua vez, quer a todo custo tomar a cria de sua mãe e adotá-la como sendo seu filho.
 
A égua ou jumenta entre coices, mordidas e muita correria, luta desesperadamente para proteger sua cria e expulsar a mula intrusa o mais rápido possível. Entretanto, por ser mais forte, a mula acaba tomando o potrinho de sua mãe e o leva, vitoriosa, para longe. Muitas vezes, o potrinho é gravemente machucado ou até morto durante a briga entre os animais, mas, quando sobrevive, é obrigado a acompanhar a mula, por ter sido adotado por ela. Todavia, o potrinho, por não ter como receber leite de sua mãe adotiva, já que a mula não está produzindo leite, pode até morrer de fome ao seu lado, caso não haja a intervenção do homem para devolvê-lo a sua verdadeira mãe.
 
Assim, os vaqueiros baseados em suas observações diárias, durante anos e anos na lida com os equídeos, explicam que as mulas não machucam ou matam os potrinhos propositadamente, mas, sim, acidentalmente quando procuram um filhote para adotar.
Na figura 31 pode-se observar uma mula Pampa em gestação e também com o potro após parto, que aos 13 anos de idade foi utilizada como receptora de um embrião de equino da raça Paint Horse em 11 de agosto de 2005, parindo em 26 de julho de 2006, no Haras Cafalloni, localizado no município de Pindamonhangaba-SP. Confirma-se então, que embora a grande maioria das mulas seja infértil, podem ser utilizadas como receptoras e que têm grande habilidade materna para cuidar de suas raríssimas crias naturais ou artificiais.
                              Figura 30. Mula com crias filhos de asinino e equino. 
Hermsdorff (1933) afirma que são numerosos os casos relatados de mulas fecundas por cavalos e jumentos e que deram crias normalmente constituídas, isto é, com três quartos de sangue de uma das espécies e um quarto de outra. A Figura 30 mostra uma mula com cria de jumento (esquerda) e cria de cavalo (direita).
         Figura 29. Jumento Nordestino e Égua Pônei, Seropédica, RJ.
         Figura 28. Jumento Nordestino e Égua Pônei, Seropédica, RJ.
O jumento Nordestino vem sendo muito utilizado no acasalamento com éguas da raça Pônei, com a finalidade de produzir um novo tipo de muar, de pequeno porte, a mulinha, cuja finalidade principal é o entretenimento em parques de diversões, circos, feiras agropecuárias e em Equoterapia, abrindo um novo mercado de trabalho e geração de empregos (Figura 28 e 29).
           Figura 27. Burro nordestino em serviço de tração de carroça, Natal, RN.
Os muares oriundos desse cruzamento são encontrados por todo o meio rural do Nordeste Brasileiro e muitas vezes no meio urbano das grandes capitais, prestando os mais variados serviços de carga e tração de carroças. São animais de estatura pequena, mas com maior capacidade física do que os Asininos (Figura 27).  
O jumento Nordestino é muito utilizado para a produção de muares, entretanto os animais são de porte pequeno, devido ao pequeno tamanho das matrizes da raça Nordestina e dos reprodutores Asininos (Figura 26).
           Figura 26. Égua da raça Nordestina e jumento da raça Nordestina, Natal, RN.
        Figura 25. Éguas Mangalarga Marchador, Criatório Morubahy, Araruama, RJ.
 
Figura 24. Éguas Mangalarga Marchador Pampa, Rancho Dourado, Lagoa Dourada, MG.
 
        Figura 23. Superburro, Universidade Federal de Viçosa, MG.
 
        Figura 22. Superburro, Universidade Federal de Viçosa, MG.
                  Figura 17. Jumenta da raça Pêga com cria bardota, Itapetinga, BA.
Na Região Nordeste, dado ao excedente de jumentas e à carência de muares para a execução de serviços de carga, normalmente feita pelos jumentos, seria uma maneira de se produzir o bardoto, que pode fazer os mesmos trabalhos de tração que os burros, resultando assim um melhor aproveitamento para um contingente grande de matrizes ociosas. Pode-se encontrar bardotos com excelentes conformações zootécnicas e, que têm vida produtiva semelhante aos demais muares.
 
O bardoto, muitas vezes, tem desempenho superior para serviços do que os outros muares. No concurso nacional de marcha, categoria macho, realizada em Brasília, DF, em setembro de 2003, os prêmios de campeão e vice-campeão foram ganhos por bardotos (Figura 18).
Figura 16. Garanhão Mangalarga Marchador e jumenta Pêga
Somente com um exame muito atento é que se pode diferençar o burro do bardoto, tal a semelhança entre eles.
                                  Figura 14. Jumento Pêga e égua Mangalarga Marchador
                             Figura 21. Superburro, UFRRJ, Seropédica, RJ.
Segundo Cappelle (1995), os superburros são indicados para o trabalho de tração, por tracionarem uma carga igual a 15% de seu peso vivo, durante a jornada diária de cinco horas de trabalho, e a diferença de qualidade de trabalho produzido entre eles e os Equinos está diretamente relacionada à diferença de peso entre ambos. Relata também que os animais estudados apresentaram bom desempenho no teste de força de tração correspondente a 20% do peso vivo, ressalva feita para as mulas, que apresentaram os piores resultados quando comparada com os burros e os equinos.
 
O autor mostra também que não existe diferença significativa em relação à distância percorrida e a velocidade média de trabalho entre os muares e os Equinos1/2 sangue Bretão e 1/2 sangue Campolina e 1/2 sangue Bretão-Postier, quando exercem tração correspondente a 15% do peso vivo. Entretanto, os muares têm tendência a uma maior recuperação de peso e um menor consumo de água após uma jornada de trabalho de 4 horas por dia, quando comparados com os equinos.
 
Torres & Jardim (1992) relatam que, enquanto se reservarem as piores éguas e as piores pastagens para a produção dos muares não se conseguirá obter bons produtos. A alimentação dos equídeos é um dos pontos de estrangulamento da criação e do desenvolvimento dos muares no Brasil. Normalmente as éguas escolhidas para a produção dos muares são animais mais velhos, sem registros genealógicos, que não têm os andamentos desejados, e até com alguns defeitos congênitos ou adquiridos. Desse modo, pode-se deduzir que o jumento da raça Pêga transmite os caracteres desejáveis aos muares, mesmo com a qualidade inferior das éguas matrizes.
Alguns criadores associados da ABCJPÊGA estão selecionando, em seus criatórios, éguas com melhores conformações fenotípicas, e com andamento marchado independentemente da raça escolhida, com a finalidade principal de produzir um muar marchador com as características da égua e do jumento reprodutor (Figuras 23, 24 e 25).
Devido ao seu porte avantajado, são animais mais lentos, são mais usados para tração com carroças, carroções, cultivo do solo. Na lida com o gado, são muito pouco usados, por causa de sua lentidão.
 
                                          Figura 18. Bardoto, Brasília, DF.
                   Figura 19.  Jumento Pêga e Égua Bretã, UFRRJ, Seropédica, RJ.
Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ e na Universidade Federal de Viçosa, MG é feito o cruzamento entre o jumento Pêga e éguas da raça Bretã (Figura 19) para produção dos superburros (Figuras 21 e 22), que são muares mais pesados, com mais força para tração de carroças com cargas mais pesadas, além de servirem como fonte de estudos, pesquisas e ensino para professores, estudantes de graduação, pós-graduação e alunos dos Colégios Técnicos. 
Entretanto, pode-se também, utilizar o acasalamento com garanhão e a jumenta Pêga (Figura 16), para a produção de um muar com as características desejadas, o produto recebe o nome de bardoto ou bardota (Figura 17).
Figura 15. Mula com andamento de marcha, Faz. Stª. Edwiges, Lagoa Dourada. MG
Na Figura 15 observa-se o produto do cruzamento entre o jumento Pêga e égua Mangalarga Marchador, classificado de PÊMLA conforme normas da Associação Brasileiras dos Criadores de Jumento Pêga.
Acasalamentos entre os equídeos.
 
No acasalamento entre os Asininos e os Equinos para a produção de muares deve-se procurar nas éguas mulateiras as mesmas características desejadas na obtenção no muar, tais como serviços de tração de carroças, cargas pesadas, lida com bovinos, esportes e lazer. Para a produção de muares com andamento marchado pode-se fazer o acasalamento com jumento reprodutor da raça Pêga e égua da raça Mangalarga e Campolina, dentre outras (Figuras 14).
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